Como Mary Baker Eddy enfrentou a insegurança quanto à moradia?

Esquina das Ruas Market e Oxford, Lynn, Massachusetts, c. 1871. P07176. Fotógrafo desconhecido.
Cinco meses antes de falecer, Mary Baker Eddy comentou: “O laço mais forte que sempre tive, além do amor de Deus, foi o meu amor pelo lar”.1 Durante sua longa vida, ela viveu em muitos locais, em condições variadas, por períodos curtos e longos. Houve períodos em que sua situação poderia ser considerada precária, em termos de moradia, e estima-se que ela tenha se mudado em torno de 70 vezes. Mas sempre foi importante para ela ter acomodações nas quais estabelecer seu senso de lar, como “o lugar mais querido da terra” e “o centro, mas não o limite, dos afetos”.2
Em sua busca por uma moradia estável, a Sra. Eddy encontrou desafios, especialmente entre os anos de 1844 e 1875. Na infância e adolescência, ela morou em duas casas que eram de seu pai, Mark Baker. A família primeiro morou em uma fazenda em Bow, New Hampshire, desde o nascimento de Mary, em 1821, até 1836, quando se mudou para a cidadezinha de Sanbornton Bridge (que mais tarde passou a se chamar Tilton).
Quando a Sra. Eddy se casou com George Washington Glover, em 1843, parecia que seu marido, um empreiteiro, continuaria a propiciar-lhe uma casa confortável. Mudaram-se para a Carolina do Sul em 1844. Mas depois de apenas seis meses, George Glover morreu, e sua esposa viúva e grávida voltou para a casa dos pais. Mais de trinta anos de dificuldades se seguiram, durante os quais ela lutou para encontrar locais adequados e mais estáveis para morar. Esses anos de instabilidade chegaram ao fim em 1875, com a compra de uma casa na Rua Broad, 8, em Lynn, Massachusetts.
Em nenhuma circunstância a Sra. Eddy precisou viver nas ruas, durante esses anos; os lugares para morar sempre se abriram para ela, embora com frequência deixassem muito a desejar. Às vezes, ela morou com parentes, e em determinado momento, morou em uma casa de propriedade de sua irmã, Martha Pilsbury. Durante um período, mudou-se frequentemente entre uma série de pensões e residências particulares, de propriedade de outras pessoas. De acordo com o biógrafo Robert Peel: “Por toda a sua vida, ter uma casa própria foi uma questão da mais alta importância para a Sra. Eddy, e uma de suas maiores dificuldades foi justamente o fato de que em grande parte de sua existência precisou morar na casa de outras pessoas”.3
Um exemplo dos problemas da Sra. Eddy, quanto a morar com parentes, ocorreu quando ela e seu filho pequeno, George Glover II, não puderam mais morar na casa do pai de Mary, depois de este ter se casado de novo em 1850, após ter ficado viúvo um ano antes. Em 1851, ela foi morar com a irmã, Abigail Baker Tilton, com quem permaneceu por dois anos. Tilton achava que George era difícil de ser controlado e também passou a acreditar que, devido ao fato de Mary ficar constantemente doente, sua irmã ficaria melhor sem precisar cuidar do menino. Decidiram por ela que uma jovem chamada Mahala Sanborn passaria a cuidar da criança. Sanborn acabara de se casar com Russel Cheney, e o casal se mudou para o vilarejo remoto de North Groton, no sopé das White Mountains de New Hampshire, levando George com eles.
Em 1853, Mary se casou com o dentista Daniel Patterson e, no final de abril de 1855, eles também foram morar em North Groton — provavelmente devido ao forte desejo dela de estar perto do filho, de quem sentia muita falta. Mas Daniel Patterson não permitiu que George morasse com eles e, um ano depois, os Cheneys se mudaram para Enterprise, Minnesota, a centenas de quilômetros de distância, levando George com eles. Depois disso, a saúde precária de Mary Patterson se transformou em invalidez, e seu marido não ganhava o suficiente como dentista. Isso, juntamente com o pânico financeiro nacional de 1857 e a depressão econômica, acabaram por levar Pilsbury a executar a hipoteca que detinha sobre a propriedade de North Groton.
Em 20 de setembro de 1859, Mary Patterson escreveu em seu caderno: “Neste dia, minha irmã vendeu a casa onde moramos” (embora eles não tenham se mudado até março do ano seguinte). Em seguida, escreveu um poema em que expressou sua angústia:
Pai, não viste a onda negra esmagadora,
Elevar do desespero aquele que luta contra o mar?
E não vês as lágrimas escaldantes que derramo,
E não conheces a minha dor e agonia? …
Pois a minha alma enferma está na escuridão da morte,
Com as terríveis sombras deste mundo de aflição;
Os fortes alicerces da minha antiga fé
Contraem-se sob mim, para onde fugirei?
Esconde-me, ó rocha santa! Escondo-me em Ti.4
Os Pattersons foram para uma pensão em Rumney Depot, New Hampshire. Nos 15 anos seguintes, pensões e quartos alugados em casas particulares seriam os principais locais em que Mary Patterson morou. Nessa época, era comum as mulheres administrarem pensões e alugar quartos, como forma de obter renda extra. Ela passou a maior parte desses anos sozinha; seu marido viajava com frequência, foi capturado e preso durante a Guerra Civil, e a abandonou na primavera de 1866. Por fim, Mary se divorciou dele em 1873.
Sua situação de moradia era instável. Por exemplo, no outono de 1867, ela se mudou para o vilarejo de Amesbury, Massachusetts, onde encontrou hospedagem e alimentação em uma grande casa, de propriedade de um capitão aposentado, Nathaniel Webster. Sua esposa, conhecida como “Mãe Webster”, administrava a casa como se fosse uma pensão. Quando Mary disse a Mãe Webster que se sentira impelida a solicitar hospedagem ali, ela exclamou: “Glória a Deus, entre imediatamente!”5
Mas sua permanência na casa dos Websters durou cerca de dez meses, apenas. Antes que os netos de Webster chegarem, cada verão, os hóspedes eram sumariamente despejados. E em uma noite de tempestade, a Sra. Eddy, junto com seus poucos pertences, foi expulsa da casa. Naquele momento, um colega da pensão a acompanhou e, descendo a rua, ela encontrou imediatamente um novo alojamento na residência de Sarah Bagley, que se tornaria uma das primeiras alunas da pesquisa bíblica que consumia todo o tempo e atenção de Mary.
Ciência e Saúde foi publicado em outubro de 1875. No início daquele ano — novamente usando seu antigo nome, Mary Glover (ela só se tornaria Mary Baker Eddy em seu casamento com Asa Gilbert Eddy, em 1877) — já estava morando em outra casa, em Lynn. Num dia de março, ela olhou pela janela e viu que a casa do outro lado da rua estava à venda. No final do mês, ela comprou a casa.
Nessa altura, a situação mudou em certo sentido — era ela agora a mulher que alugava quartos para outras pessoas, reservando apenas uma pequena parte da casa para si mesma. A compra da casa na Rua Broad, 8, marcou o fim de seus anos de instabilidade no que concerne à moradia. Como sua renda aumentou, depois do ano de 1875, com a venda de seus escritos, bem como com a renda dos aluguéis, ela passou a ter condições de pagar por acomodações mais adequadas. Seu amor pelo lar e pela família acabaria se ampliando, de modo a incluir uma casa com funcionários que, além de morar com ela, ajudaram em seu trabalho de liderança do movimento da Ciência Cristã.
- Ver Reminiscence File [Arquivo de Reminiscências], diário de William Rathvon, anotação de 3 de julho de 1910.
- Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras (Boston: The Christian Science Board of Directors), 58.
- Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Discovery [Mary Baker Eddy: Os anos da descoberta] (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1966), 140.
- Poema sem título, Caderno no 1, anotação do dia 20 de setembro de 1859, A09001, 60–61.
- Declaração de Mary Ellis Bartlett, citada no livro de Georgine Milmine, The Life of Mary Baker G. Eddy and the History of Christian Science [A vida de Mary Baker Eddy e a história da Ciência Cristã] (New York: Doubleday, Page, & Co., 1909), 116.