Mulheres que fizeram história: Adele Simpson
Uma passagem na Bíblia, do livro de Jó, sempre fascinou a estilista do pós-guerra, Adele Simpson: “Orna-te, pois, de excelência e grandeza, veste-te de majestade e de glória” (40:10). Ela acreditava que homens e mulheres deveriam vestir-se de modo a expressar seu eu mais elevado — ponto de vista esse que era fruto de suas convicções espirituais.
Essa estilista de um metro e meio (para ser vista, ela tinha de subir em uma superfície mais alta, durante os desfiles de moda) atribuía suas realizações, como artista e empresária, ao estudo da Ciência Cristã. E expressava sua gratidão a Mary Baker Eddy, por proporcionar os ensinamentos que a levaram a uma maior felicidade e harmonia na carreira e no casamento.1
Adele criou modas inovadoras e acessíveis que alcançaram as passarelas do mundo todo e até embelezaram capas da revista Vogue. Uma das fundadoras do Council of Fashion Designers of America (CFDA) [Conselho de Estilistas de Moda da América] e do Fashion Group International (FGI) [Grupo Internacional da Moda], Adele também é conhecida como “A estilista das Primeiras Damas americanas”. Ao longo de quatro décadas, ela vestiu Mamie Eisenhower, Lady Bird Johnson, Pat Nixon, Betty Ford, Rosalyn Carter, e Barbara Bush.2
Adele Smithline (seu nome de solteira) nasceu em 28 de dezembro de 1903 no Upper East Side de Nova York, filha de pais vindos da Letônia, Jacob Smithline (aprox. 1870–1936) e Ella Bloch (aprox. 1870–1928). O casal havia imigrado da Letônia para os Estados Unidos em 1901. A mãe era dona de casa e o pai alfaiate. Devido ao trabalho de confecção da família, ela e suas quatro irmãs receberam aulas particulares de bordado em casa, e seus pais contratavam uma costureira — algo comum para famílias grandes de classe média e alta, naquela época. Todo o guarda-roupa das crianças era feito sob medida. E por ser a mais nova, Adele recebia principalmente peças de segunda mão. Isso a motivou a começar a fazer suas próprias roupas. Aos 14 anos, ela já estava costurando trajes para si mesma e confeccionando coleções completas para todas as suas irmãs.3
Mesmo bem jovem, Adele já se sentia motivada a olhar para as culturas ao redor do mundo, em busca de inspiração para suas criações. Em determinada ocasião, ela costurou uma coleção para uma de suas irmãs usar em uma viagem ao exterior, baseada totalmente em padrões e bordados egípcios.4 Esse fato, explicou ela, colocou sua carreira em movimento:
Uma de minhas irmãs, artista talentosa, era desenhista na Ben Gershel & Company, empresa de confecções. Seu patrão notou as roupas que ela usava e quis saber onde as comprava. Quando lhe contou que sua irmã menor as confeccionava, ele me chamou e me contratou. 5
Nessa época, Adele ainda era adolescente e frequentava a escola. Mas somente alguns anos depois, aos 21 anos, ela subiria ao topo da Sétima Avenida, para ser então conhecida como uma das estilistas mais bem pagas da indústria da moda.6
Entre seus 20 e 30 anos, Adele explorou várias oportunidades criativas, em sua carreira de estilista. Ela tomou aulas no Pratt Institute de Nova York e logo conseguiu um emprego com o famoso estilista Bill Blass. Posteriormente, trabalhou para o estilista Al Lasher, tornou-se sócia da empresa, adquiriu-a aos 29 anos e tornou-se sua diretora, dando o nome Adele Simpson para a marca.7 Ela estava abrindo caminho para as mulheres na indústria da moda, até então dominada por homens. Mas seu trabalho pioneiro durou a vida inteira — mais de 25 anos depois, o The New York Times estava publicando histórias como esta:
Moda é assunto de mulher. Mas a grande maioria das grifes são administradas por homens. Existem, no entanto, algumas exceções notáveis, sendo Adele Simpson, Inc., a mais destacada. Devemos observar, é claro, que muitas grifes femininas têm nomes femininos, mas na maioria das vezes, esses nomes designam a fundadora ou a estilista, não os principais proprietários.8
Em 1930, Adele casou-se com Wesley Simpson, um vendedor de tecidos. O casal se conheceu no escritório dela, quando Wesley lhe mostrou uma nova linha de materiais. Logo depois, amigos em comum lhes proporcionaram uma apresentação mais formal. E, nesse processo, ela também foi apresentada à Ciência Cristã, por meio da irmã de Wesley, Elsie.9 Ao refletir sobre isso, Adele relembrou o que a atraiu à religião:
Desde criança, resisti instintivamente ao conceito de um Deus de quem devemos ter medo. Ao mesmo tempo, eu não sabia como buscar uma melhor compreensão a respeito dEle. Portanto, à medida que eu crescia, embora honrasse a Deus e obedecesse aos Dez Mandamentos, não estava buscando nenhuma religião. Eu estava em busca de uma carreira que estabelecesse tendências na moda e me levasse ao topo em minha área. Isso havia resultado em um ritmo frenético de atividades que ficou difícil de manter, criando tensões em casa e nos negócios. Nesse ponto, conheci a Ciência Cristã e comecei a conhecer a Deus como o Princípio universal, o Amor.10
Adele e Wesley trabalhavam juntos e em determinado momento abriram sua própria fábrica de vestidos. Equilibrar o lado pessoal e o profissional de seu relacionamento às vezes era difícil, e nesses momentos ela se via recorrendo à oração. Sua cunhada havia conversado com ela sobre “o poder sanador e tranquilizante do Amor”.11 Isso a levou a começar o estudo da Ciência Cristã. Ela ficou bastante comovida com “O Matrimônio”, o terceiro capítulo do livro de Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, no qual encontrou orientação útil para enriquecer seu próprio casamento. Gostava deste trecho em especial:
A Ciência [Cristã] inevitavelmente eleva o nosso existir mais ao alto na escala da harmonia e da felicidade. São necessárias afinidades de gostos, motivos e aspirações para a formação de um companheirismo feliz e permanente.12
Logo Wesley também começou a estudar a Ciência Cristã. Como os dois estavam unidos em atividades dentro e fora de casa, Adele achou particularmente benéficos os efeitos harmonizadores da prática de sua nova fé. Ela também constatou que a Ciência Cristã trouxe o equilíbrio que faltava em sua vida.13
Em seu trabalho, Adele ficou particularmente interessada em dominar habilidades de liderança, as quais tinham um valor especial, em uma época em que as mulheres normalmente não administravam empresas. Ela buscou o exemplo do que a Bíblia diz sobre Moisés, liderando sua nação para fora do Egito. Em Ciência e Saúde, ela encontrou o que chamou de “uma ciência fundamental da Vida — do homem e do Universo — com regras e leis que, se aplicadas, trazem realizações e satisfações espirituais a homens e mulheres”. E “decidi que, da melhor maneira possível, eu aplicaria essas leis científicas e sagradas de Deus à minha própria carreira”. Ela estudava atentamente, todas as manhãs, a Lição-Sermão semanal do Livrete Trimestral da Ciência Cristã e descobriu que isso trazia inspiração para supervisionar o trabalho artístico de outras pessoas:
Ao lidar com 60 ou 70 pessoas por dia, em minha indústria, constatei que o fator harmonizador nas relações humanas é o Amor divino. Se chego de manhã e encontro um funcionário fazendo algo errado, não o confronto diante de seus colegas de trabalho, mas espero a oportunidade certa, geralmente no final do dia. Então eu explico o que não estava certo, peço para ele refletir sobre o caso durante a noite e ver como aquilo podia ser corrigido. Essa prática conquistou para mim muitos trabalhadores leais e atenciosos.
Na indústria do vestuário, com seus temperamentos e pressões de prazos sazonais, as pessoas tendem a se deixar levar pelas emoções do momento. Os ensinamentos de minha religião, de que tudo está sob o governo do Amor divino, não apenas me ajudaram a manter a calma sob estresse, mas também ajudaram a trazer uma atmosfera de calma para os outros.14
Como artista, Adele atribuiu muito de seu processo a uma passagem de Ciência e Saúde que é parte de uma resposta à pergunta “O que é o homem?”: “[é]… o que não tem nenhuma qualidade que não derive da Deidade; é o que não possui vida, inteligência, nem poder criador próprios, mas reflete espiritualmente tudo o que pertence a seu Criador”15 Ela até mesmo denominou esse trecho de “regra suprema no meu trabalho criativo”. Lembrava-se diariamente de que Deus vinha em primeiro lugar em sua vida, e que Deus governa o homem e o universo. O ensinamento da Sra. Eddy de que o homem não tem poder criador próprio a aliviou de tensões e crenças egotistas. Ela percebia que seu trabalho como artista “era manifestar as ideias que vinham de Deus, a Mente única e criadora”.16
À medida que sua carreira florescia, Adele criou modelos lindos, chiques, e que também eram práticos para as mulheres. O jornal The New York Times explicou:
A Sra. Simpson pegou a alta costura francesa e deu uma interpretação americana do prêt-à-porter. Seus vestidos e jaquetas em cores coordenadas e casacos bem cortados em tecidos finos conquistaram as mulheres de bom gosto de seu tempo, que desejavam roupas clássicas que não custassem um mês de aluguel.17
Ela foi responsável por repopularizar vestidos que as mulheres não precisavam vestir pela cabeça, uma característica incomum nas décadas anteriores. E também pelas jaquetas reversíveis. Ela estava determinada a criar roupas femininas que simplificassem o vestir.18 Enquanto a maioria dos principais estilistas eram homens, Adele empregou com eficácia sua compreensão pessoal dos corpos femininos e da vida do dia-a-dia, na criação de roupas confortáveis e sofisticadas. O Fashion Institute of Design & Merchandising comentou que ela “foi pioneira em seu jeito tranquilo”, acrescentando que “ela introduziu algodão e tecido próprio para confecção de sáris nas roupas de noite, adicionando um toque não convencional às suas silhuetas conservadoras. E ela costumava usar preto em seus trajes de primavera e verão”.19
Em 1961, Adele viajou para o Peru onde, de acordo com o The Christian Science Monitor, absorveu “cores e cultura, artes e artesanato, o velho imutável e a agitação do novo” para inspirar sua coleção de verão de 1962. Ela usou bordados Picora em muitas das peças de sua coleção e também incorporou xales tapada peruanos e ponchos tradicionais nos desenhos de vestidos elegantes e de festa.20
Adele viajou por muitos países para realizar desfiles de moda, inclusive França, Turquia, China e Índia. E essas viagens ofereciam mais oportunidades para se voltar à sua fé:
Eu vou a um país não como estrangeira, mas como uma amiga. Através dos olhos de meus novos amigos, tenho uma visão íntima do país … Minha fé religiosa de que existe um Pai-Mãe universal e, portanto, uma única família humana, levou-me a compartilhar com vários países meu conhecimento de técnicas de fabricação e tendências da moda — ajudando-os em seus esforços em produzir para um mercado mundial.21
Wesley faleceu em 8 de setembro de 1975. Eles haviam sido casados por quase 45 anos.22 Ela continuou a administrar a empresa por aproximadamente mais uma década, antes de entregar os negócios a sua filha e genro, Joan e Richard Raines, em 1984. Até então, o casal já havia trabalhado para a empresa por 30 anos. “Minha mãe era muito filha da mãe dela”, disse o filho deles, Roger Raines. “Ela tinha um brilho autêntico e era sempre divertida.” Joan criou principalmente vestidos para o dia, ternos, casacos com saias combinando, botas para noite e capas de chuva. Em 1991, Adele Simpson, Inc., e Baron Peters, Inc., fundiram-se para formar a ASBP. No ano seguinte, Joan e Richard pediram demissão de seus cargos. Logo depois, seu sócio, Baron Peters, entrou com pedido de falência.23
Adele faleceu em 23 de agosto de 1995, em sua casa em Greenwich, Connecticut, EUA. Tinha 91 anos. Deixou dois filhos, Joan Raines e Jeffery Simpson, três netos e bisnetos. Nessa época, Joan havia assumido o controle da marca. Eis o que ela lembra da mãe:
Ela tinha uma grande filosofia que ensinou aos filhos, que era: “Nunca aceite um não como resposta”. Foi uma verdadeira pioneira e uma verdadeira líder. Não tinha medo de apostar, quando se tratava de comprar ou cortar mercadorias para o trabalho. Ela costumava dizer: “Se você colocar a mão na água quente, tire-a”.24
Adele Simpson dedicou sua vida à indústria da moda — mas para ela, significava muito mais do que apenas roupas. Era “um fascínio pela maneira como as pessoas de todo o mundo expressam seu senso de beleza”. A dedicação à Ciência Cristã permeou sua vida e alcançou o mundo inteiro, como indicado nesta reflexão:
Em todos os lugares por onde passo, procuro igrejas filiais da Ciência Cristã e participo dos cultos de domingo e das reuniões de quarta-feira à noite. Nunca deixo de ficar impressionada com o fato de que no mundo inteiro — seja na Itália, França, América do Sul, Alemanha, Inglaterra, Extremo Oriente, Oriente Próximo, Beverly Hills, Dallas, Nova York, Greenwich, Boston — os cultos da Ciência Cristã são iguais. Sejam eles conduzidos em inglês, francês, italiano, espanhol, alemão — sou muito grata a Mary Baker Eddy por ter fundado uma igreja mundial.25
Esse blog também pode ser lido neste site em alemão, espanhol, francês e inglês.
- Marcy Babbitt, Living Christian Science: Fourteen Lives [Vivenciando a Ciência Cristã: Catorze vidas] (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, Inc., 1975), 190.
- “Adele Simpson: Fashion Designer for First Ladies” [Adele Simpson: A Estilista das Primeiras Damas], Los Angeles Times, 26 de agosto de 1995, https://www.latimes.com/archives/la-xpm-1995-08-26-mn-39154-story.html; “Woman’s Dress, 1948–58”, National Museum of American History, https://americanhistory.si.edu/collections/search/object/nmah_360605.
- Babbitt, Living Christian Science, 188.
- Adele Simpson, entrevista a Phyllis Feldkamp, 13 de junho de 1978, FIT Special Collections & College Archives, https://www.youtube.com/watch?v=FGn-5UiLTQ4, 16:45–17:30.
- Babbitt, Living Christian Science, 188.
- “Adele Simpson: Fashion Designer for First Ladies” [Adele Simpson: A Estilista das Primeiras Damas], Los Angeles Times, 26 de agosto de 1995, https://www.latimes.com/archives/la-xpm-1995-08-26-mn-39154-story.html.
- Babbitt, Living Christian Science, 191–192.
- Herbert Koshetz, “Fashion House Run by a Woman Is a Rarity” [Casa de moda administrada por mulheres é uma raridade], The New York Times, 21 de dezembro de 1959, 39.
- Babbitt, Living Christian Science, 189. “Wesley Simpson, Designer And Textile Executive, 72” [ Wesley Simpson, designer e executivo do ramo têxtil], The New York Times, 9 de setembro de 1975, 42.
- Babbitt, Living Christian Science, 187.
- Ibidem, 190.
- Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras (Boston: The Christian Science Board of Directors), 60.
- Babbitt, Living Christian Science, 190.
- Ibidem, 190, 196.
- Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde, p. 475.
- Babbitt, Living Christian Science, 191.
- Constance C.R. White, “Adele Simpson, 91, a Designer And Postwar Fashion Leader” [Adele Simpson, 91, estilista e líder da indústria da moda do pós-guerra], The New York Times, 24 de agosto de 1995, D21.
- Babbitt, Living Christian Science, 188.
- “Spotted: Elegance in Black and White” [Descoberta: Elegância em preto e branco], https://fidmmuseum.org/2015/05/adele-simpson.html#:~:text=spotted.
- Marilyn Hoffman, “Peru Now Inspires Fashion” [Peru agora inspira a moda], The Christian Science Monitor, 21 de maio de 1962, 4.
- Babbitt, Living Christian Science, 193.
- “Wesley Simpson, Designer And Textile Executive, 72” [ Wesley Simpson, designer e executivo do ramo têxtil], The New York Times, 9 de setembro de 1975, 42.
- Obituário de Lisa Lockwood, Joan Simpson Raines e Richard Raines, Women’s Wear Daily, 20 de maio de 2020.
- “Adele Simpson dead at 91” [Adele Simpson morre aos 91 anos], Women’s Wear Daily, agosto de 1995, 6.
- Babbitt, Living Christian Science, 200.