Mulheres que fizeram história: Sarah Pike Conger

Sarah Pike Conger, Edwin H. Conger e uma sobrinha, em frente ao Edifício da Delegação dos Estados Unidos em Beijing, China, c. 1900, P00477.
Eu amo minha preciosa religião como nunca antes soube amá-la. Ela provou ser um poder de força em um momento de necessidade…1
Em cartas escritas durante a Rebelião dos Boxers, em 1900, Sarah Pike Conger mencionou com frequência sua religião e como esta a sustentou durante aqueles meses difíceis. Esposa do ministro americano em Beijing, China, Sarah foi uma fonte de conforto para as pessoas durante o cerco ao bairro dos estrangeiros na cidade.
Ela nasceu Sarah Jane Pike em Ohio, em 24 de julho de 1843. Seus pais a incetivaram a estudar, o que floresceu em amor pelo aprendizado, amor esse que ela nutriu a vida inteira. Sarah frequentou a Faculdade Lombard, em Galesberg, Illinois. Lá, ela conheceu aquele que viria a ser seu marido, Edwin Conger. O relacionamento deles era uma parceria de igualdade, conforme Edwin descreveu em uma carta para a filha deles: “Se quiseres uma absoluta e inabalável confiança mútua, faça questão de sempre ter mais consideração pelo outro do que por si mesma”.2
Depois de uma carreira política nos Estados Unidos, Edwin Conger foi nomeado ministro das relações com o Brasil, em setembro de 1890. Os Congers se mudaram para Petrópolis, dando a Sarah a oportunidade de viver fora dos Estados Unidos pela primeira vez.3 O desejo que ela tinha de entender as pessoas ao seu redor a forçou a reavaliar sua “atitude de superioridade”.4 Em uma carta enviada a Mary Baker Eddy em 1898, Sarah escreveu: “Parei de comparar e contrastar essas pessoas com meus queridos compatriotas… Há uma única fraternidade”.5 Sarah havia se filiado À Igreja Mãe em janeiro de 1894 e mais tarde veio a se tornar professora da Ciência Cristã. Apesar de suas cartas para a Sra. Eddy não revelarem detalhes específicos a respeito de como Sarah veio a se interessar pela Ciência Cristã, com frequência ela expressava sua gratidão por ter conhecido essa Ciência. As duas continuaram a se corresponder pelo resto da vida da Sra. Eddy.
Em janeiro de 1898, Edwin foi nomeado ministro para a China, e naquele verão os Congers chegaram ao Bairro das Delegações, em Beijing (chamada Pequim naquela época). Sarah, que apoiava os direitos da mulher, ficou particularmente interessada nas experiências das mulheres chinesas.6 Mas, ao chegar na China, ela percebeu que raramente interagia com mulheres.7 Seu desejo foi parcialmente atendido no dia 18 de dezembro de 1898, quando as esposas dos ministros estrangeiros foram convidadas para uma audiência com a Imperatriz Viúva Cixi.8 Mais tarde, Sarah relembrou esse econtro em uma carta à sua irmã:
Ela tinha uma expressão vivaz e alegre, e sua feição transpirava boa vontade. Não havia nenhum sinal de crueldade. Com simples gestos ela nos deu as boas-vindas, e suas ações transpareciam plena liberdade e amabilidade. Sua Majestade levantou-se e nos desejou felicidades. Ela estendeu as duas mãos para cada mulher e, então, indicando a si mesma, disse com muito entusiasmo e sinceridade: “Uma única família; todas parte de uma única família”.9
Sarah chegou à China em um momento tumultuado. Em 1898, um grupo conhecido como Boxers estava ganhando notoriedade e poder no noroeste daquele país. Eles eram anti-cristãos e se opunham fortemente à influência estrangeira. Na primavera de 1900, cristãos chineses e missionários estrangeiros estavam chegando em massa a Beijing, em busca de proteção no Bairro das Delegações Estrangeiras.10 Em meados de junho, as ruas de Beijing estavam repletas de Boxers.11 As delegações ficaram encurraladas, enquanto os edifícios ao redor do Bairro das Delegações foram destruídos. Os ministros telegrafaram aos próprios governos em busca de apoio, e foram enviadas tropas, mas ainda levaria semanas para essas tropas chegarem à cidade.
No dia 18 de junho de 1900, o governo chinês informou os ministros que eles tinham 24 horas para deixar a cidade. Depois disso, o governo chinês deixaria de protegê-los.12 Edwin e os outros ministros concluíram que seria mais seguro permanecer em Beijing e esperar pelos soldados de seus países.13
Sarah relatou que o pessoal da Delegação, os refugiados e os missionários trabalharam juntos para apagar os incêndios provocados pelos Boxers.14 Ela se uniu a eles, e juntos prepararam sacos de areia para as barricadas, rasgaram roupas para fazer bandagens e conseguiram mantimentos.15 Uma mulher contou que Sarah ficou conhecida como a “fada madrinha” deles.16 Para Sarah, sobreviver a esse duro período foi uma questão de fé:
Dou graças de hora em hora. Há muito pelo que ser grata. Minha Ciência Cristã é tudo para mim, contudo eu gostaria de poder fazer muito mais com ela. Parece haver tanto o que fazer para dissipar a escuridão e deixar que a luz brilhe. Meu coração com frequência se volta ao lar, aos meus queridos e amados Cientistas Cristãos. Tenho a certeza de que vós estais nos enviando pensamentos de força, proteção e saúde.17
Em 14 de agosto de 1900, tropas internacionais chegaram em Beijing e libertaram as delegações, embora certa resistência tenha continuado em algumas partes da China, até o Protocolo dos Boxers ser assinado, em setembro de 1901.18

Cartão de Natal de Edwin H. e Sarah Pike Conger, c. 1904. Coleções da Biblioteca, Assunto pasta 38
Os Congers permanceram na China. No dia 1o de fevereiro de 1902, Sarah se encontrou novamente com a Imperatriz Viúva, desta vez liderando as mulheres do corpo diplomático. Naquela recepção, Sarah era a única mulher que estivera presente durante o cerco. Em seu discurso, ela expressou a esperança de “relações mais francas, mais confiáveis e mais amistosas com povos estrangeiros”.19
Em 1905, os Congers retornaram aos Estados Unidos e se estabeleceram em Pasadena, na Califórnia.20 Edwim faleceu em 18 de maio de 1907. Sua debilitada saúde sofrera o impacto da tensão do cerco em Beijing.21 Sarah veio a falecer em fevereiro de 1932, na Casa de Repouso da Ciência Cristã, em Pleasant View, Concord, New Hampshire.22 Durante os anos que passou no exterior, ela procurou promover um maior entendimento entre os povos. Ao se corresponder com Mary Baker Eddy, após retornar aos Estados Unidos, Sarah descreveu como sua religião influenciou todo o trabalho de sua vida:
Ter relações amistosas foi minha missão na China, e eu me empenhei em estabelecer e manter essas relações com os chineses, com os diplomatas, os missionários e todos aqueles com quem tive algum contato. Só Deus sabe o resto… O que eu consegui realizar na China por meio da Ciência Cristã — não ensinado nem falando sobre ela, mas me empenhando em vivê-la — foi maravilhoso.23
- “Siege of the Foreign Legations: Interesting Letter from Mrs. Conger, wife of United States Minister in Peking” [O cerco às Delegações Estrangeiras: Carta interessante da Sra. Conger, esposa do Ministro dos Estados Unidos em Pequim], Christian Science Sentinel, 11 de outubro de 1900, 84.
- Grant Hayter-Menzies, The Empress and Mrs. Conger: The Uncommon Friendship of Two Women and Two Worlds [A Imperatriz e a Sra. Conger: A incomum amizade entre duas mulheres e dois mundos] (Hong Kong: Hong Kong University Press, 2011), 7–8, 10.
- Ibidem, 13.
- Sarah Pike Conger, Letters from China [Cartas enviadas da China] (Chicago: A.C. McClurg & Co., 1909), 3.
- Sarah Pike Conger para Mary Baker Eddy, 7 de janeiro de 1898, 026.10.003.
- Hayter-Menzies, 28, 32. Em um escrito não datado, Sarah declarou: “Como mulheres que somos, defendamos de maneira inabalável o Princípio — o Direito — em todos os aspectos, e então, com uma vida plena, sejamos mão forte para ajudar o mundo”. Sarah Pike Conger, rascunho do dicurso “Woman’s Work!” [O trabalho da mulher!], n.d., 026.10.002.
- Hayter-Menzies, 83. Sarah Pike Conger, Letters from China, 2.
- Hayter-Menzies, 59, 61.
- Conger, Letters from China, 41–42.
- Trevor K. Plante, “U.S. Marines in the Boxer Rebellion” [Fuzileiros navais americanos na Rebelião dos Boxers], Prologue Magazine, Vol. 31, no 4, (Inverno 1999): 1–2, acessado em 25 de julho de 2016, http://www.archives.gov/publications/prologue/1999/winter/boxer-rebellion-1.html.
- Hayter-Menzies, 120.
- Plante, 1–2.
- “Siege of the Foreign Legations”, 84–86.
- Ibidem, 87.
- Hayter-Menzies, 144.
- Ibidem, 83.
- “Siege of the Foreign Legations”, 90. Para ver um exemplo de como os Cientistas Cristãos deram apoio espiritual, ver Peel, Robert, Mary Baker Eddy: The Years of Authority [Mary Baker Eddy: Os anos de autoridade] (Boston: Christian Science Publishing Society, 1977), 421, n.32.
- Plante, 3.
- “Legation Women see Dowager Empress” [Mulheres das Delegações se reúnem com a Imperatriz Viúva], Christian Science Sentinel, 20 de fevereiro de 1902, 392.
- Hayter-Menzies, 263.
- “Ex-Minister Conger Dead” [Falece o ex-ministro Conger], The New York Times, 19 de maio de 1907, 7.
- Hayter-Menzies, 276–277.
- “Christian Science and China” [A Ciência Cristã e a China], Christian Science Sentinel, 24 de março de 1906, 467.