O “registro de sonhos”: Quem eram os tutores de George Glover
Temos em nosso acervo dois papéis frágeis, encontrados no cofre de George Washington Glover III, neto de Mary Baker Eddy. Eles fornecem informações importantes sobre a infância de seu pai, George Washington Glover II, filho da Sra. Eddy.
Algumas informações básicas ajudam a definir o contexto. George Washington Glover II nasceu em setembro de 1844, quando a Sra. Eddy (na época Mary M. Glover) tinha 23 anos. Seu marido, George Washington “Wash” Glover, havia morrido cerca de três meses antes, após apenas seis meses de casamento. Por ser mulher, ela não podia ter a guarda do filho; legalmente, o pequeno George era responsabilidade do avô materno, Mark Baker.
Baker também se tornou financeiramente responsável pelo menino. As oportunidades de emprego para as mulheres eram limitadas e mal remuneradas, na zona rural de New Hampshire, onde Mary e George viviam com os pais dela, até o final de 1850. Naquela época, Mark se casou novamente — a mãe de Mary, Abigail, havia morrido no ano anterior — e ele decidiu que a filha e o neto deveriam se mudar para outra casa.
Na realidade, a única opção para Mary era morar com a irmã, Abigail Baker Tilton. Mas o muito vivaz George não era bem-vindo ali. Mark Baker encontrou uma solução: George iria morar com Mahala Cheney, uma antiga funcionária de confiança da família, a qual morava com o marido, Russell, em uma fazenda no norte de New Hampshire. A angústia de Mary com essa mudança é vividamente expressa em um poema que escreveu na época: “Oh, a vida sem ti está morta, de tudo despojada — estrela da minha esperança terrena, filhinho de minh’alma”.1
Embora a Sra. Eddy nunca pudesse ter legalmente a guarda de George, se ela se casasse novamente, seu marido poderia, por determinação judicial, assumir essa responsabilidade. Como a Sra. Eddy rememorou mais tarde: “Meu principal intuito, ao casar-me de novo, havia sido recuperar meu filho, mas depois do casamento meu marido [Daniel Patterson] não quis que ele viesse morar conosco”.2
Esses papéis do cofre documentam um acontecimento imprevisto e indesejável: a tentativa agressiva e bem-sucedida de Russell Cheney de obter dinheiro da família de George. Cheney havia sido nomeado tutor de George no início de 1859, e teve como alvo o segundo marido da Sra. Eddy, Daniel Patterson, a quem identificou incorretamente como ex-tutor do menino. Na verdade, os Pattersons não tinham dinheiro sobrando. Eles estavam quebrados, enfrentando a execução hipotecária de sua casa em North Groton, New Hampshire.
Mark Baker foi quem atendeu a Cheney, pagando-lhe US$ 200 (cerca de US$ 7.400 em valores atuais).3 Os documentos não mencionam a mãe de George, e é provável que ela não soubesse nada sobre o pagamento de seu pai a Russell Cheney. Esse talvez tenha sido um dos períodos mais angustiantes da vida da Sra. Eddy. Ela escreveu isto, após relatar, em sua autobiografia, a história do afastamento de seu filho:
É bom saber, caro leitor, que nossa história material, mortal, é apenas o registro de sonhos, e não da existência real do homem, e o sonho não tem lugar na Ciência do existir. É “como um conto que se conta”, e “como a sombra que declina”. O propósito celestial das sombras terrenais é o de purificar os afetos, repreender a consciência humana e fazer com que ela se volte, de bom grado, de um senso material e falso de vida e felicidade, para a alegria espiritual e a avaliação correta a respeito do existir.
O despertar, que nos eleva acima do senso errôneo de que haja vida, substância e mente na matéria, ainda é imperfeito; mas pelas lúcidas e duradouras lições do Amor, que conduzem a esse resultado, eu agradeço a Deus.4
Cerca de seis anos depois, sua vida começaria a mudar com esse “despertar”, isto é, a descoberta da Ciência Cristã.
Esse artigo também pode ser lido neste site em alemão, espanhol, francês e inglês.
- Mary Baker Eddy, Retrospecção e Introspecção, 20.
- Ibidem.
- Ver Gillian Gill, Mary Baker Eddy (Reading, MA: Perseus Books, 1998), 114–115. Para obter mais informações sobre esses documentos e sua importância para a compreensão do relacionamento da Sra. Eddy com o filho, leia “An important historical discovery” [Uma importante descoberta histórica], de Jewel Spangler Smaus, The Christian Science Journal, maio de 1983.
- Mary Baker Eddy, Retrospecção, 21.